Mostra de Cinemas Africanos celebra centenário de Amílcar Cabral, líder revolucionário da Guiné-Bissau e de Cabo Verde
Programação exibe títulos de Cabo Verde e Guiné-Bissau e oferece minicurso sobre a figura e legado de Cabral nos cinemas africanos.
Em comemoração ao centenário de Amílcar Cabral, icônico líder revolucionário da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, a Mostra de Cinemas Africanos apresenta uma programação especial que celebra e reflete sobre seu legado. Este evento destaca a influência duradoura de Cabral nas sociedades cabo-verdianas e guineenses através de uma seleção de filmes e atividades formativas. Entre os destaques da programação estão dois filmes que abordam de maneira única o impacto de Amílcar Cabral.
Homem Novo, de Carlos Yuri Ceuninck (Cabo Verde), oferece uma visão poética e reflexiva sobre as transformações sociais e culturais nas ilhas cabo-verdianas, evocando a memória de Cabral e sua luta pela independência. Na década de 1980, em Cabo Verde, na ilha de São Nicolau, na pequena comunidade de Ribeira Funda, os habitantes decidiram abandonar o local, assustados com uma série de acontecimentos trágicos ocorridos por ali, atribuindo essas tragédias às forças do mal que vivem nos arredores do lugarejo. Seu Quirino é o único morador que se negou a sair. Diante de um futuro repleto de incertezas e com o peso do isolamento, da doença e da velhice, pela primeira vez na vida ele começa a aceitar a ideia de que poderá deixar o único lugar que já conheceu.
Em Nome, de Sana Na N’Hada, o veterano diretor da Guiné-Bissau revisita os anos de sua juventude e a tumultuosa luta contra o exército colonial português, de 1969 até meados da década de 1970. Com uma abordagem minimalista e estilizada, o filme é repleto de uma beleza lírica e mistério espiritual. A narrativa começa em uma aldeia distante do conflito armado, onde observamos a vida cotidiana de Nome, sua mãe e a mulher que ele ama. Nome deixa sua casa para se juntar aos guerrilheiros, tornando-se um líder heroico. No entanto, os relacionamentos pessoais que ele deixou para trás voltam para assombrá-lo durante o complicado e confuso período pós-revolucionário.
Sana Na N’Hada é um dos pioneiros do cinema na Guiné-Bissau e é amplamente reconhecido por seu papel na criação e desenvolvimento do cinema no país. Na N’Hada começou sua carreira cinematográfica no contexto das lutas anticoloniais, tendo participado ativamente da guerra de independência contra o domínio português.
Todos os filmes têm classificação indicativa de 14 anos, salvo indicações em contrário.
Minicurso
Construções Cinematográficas de Amílcar Cabral: Reflexões sobre os Cinemas Africanos e suas Narrativas
Além das exibições dos filmes, a Mostra inclui na programação de Salvador o curso “Construções Cinematográficas de Amílcar Cabral: Reflexões sobre os Cinemas Africanos e suas Narrativas”, ministrado por Jusciele Oliveira. A atividade oferece uma análise aprofundada das representações cinematográficas de Amílcar Cabral, líder revolucionário dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP). Baseado nas experiências e trocas de Jusciele Oliveira durante sua participação nas comemorações do centenário de Cabral em Cabo Verde e Guiné-Bissau, o curso explora como a figura de Cabral foi retratada e interpretada em filmes africanos e como essas representações contribuem para a compreensão da história e do contexto político do continente africano.
Serviço:
Minicurso
Construções Cinematográficas de Amílcar Cabral: Reflexões sobre os Cinemas Africanos e suas Narrativas
Facilitadora: Jusciele Oliveira
24 e 25 de setembro
Museu de Arte Contemporânea da Bahia – Rua da Graça, 284 – Graça. Salvador (BA)
50 vagas
Inscrições gratuitas: www.mostradecinemasafricanos.com
Sobre Amílcar Cabral
Amílcar Cabral (1924-1973) foi um influente líder revolucionário e teórico anticolonialista, nascido na Guiné-Bissau e também reconhecido em Cabo Verde. Formado em agronomia em Lisboa, Cabral utilizou seu conhecimento para organizar e liderar o movimento de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde contra o domínio colonial português. Ele fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em 1956, desempenhando um papel crucial na luta armada que culminou na independência da Guiné-Bissau em 1973 e, posteriormente, de Cabo Verde em 1975.
Cabral era conhecido por sua visão estratégica e habilidade de mobilizar tanto camponeses quanto intelectuais para a causa anticolonial. Ele defendia a importância da cultura na resistência e acreditava que a libertação política deveria estar acompanhada de uma emancipação cultural e social. Além de ser um líder militar, Cabral era também um pensador prolífico, cujas ideias sobre a luta anticolonial e a reconstrução nacional influenciaram movimentos de libertação em toda a África.
Ele foi assassinado em janeiro de 1973, pouco antes da independência da Guiné-Bissau. Seu legado, no entanto, continua a inspirar gerações de ativistas e líderes em todo o mundo, sendo celebrado como um dos grandes heróis da luta pela libertação africana.
Sobre Jusciele Oliveira
Possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (2006). Especialização em Metodologia do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Docência do Ensino Superior (2010). Mestre em Literatura e Cultura, pela Universidade Federal da Bahia (2013), com a dissertação sob o título “Tempos de Paz e Guerra: dilemas da contemporaneidade no filme Nha Fala de Flora Gomes”. Doutora em Comunicação, Cultura e Artes pelo Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, em Portugal (2018), com bolsa da CAPES Doutorado Pleno no Exterior, com a tese; “Precisamos vestirmo-nos com a luz negra”: uma análise autoral nos cinemas africanos – o caso Flora Gomes. Tem textos publicados nacional e internacionalmente sobre literatura, cinema e cultura africanas, notadamente, sobre a Guiné-Bissau e Flora Gomes. Coeditou o e-book Cinemas Africanos Contemporâneos – Abordagens Críticas (Sesc São Paulo) com Ana Camila Esteves em 2020. Atualmente, é investigadora colaboradora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC/Ualg-Portugal) e pesquisadora do Laboratório de Análise Fílmica, da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), com pesquisa sobre gêneros cinematográficos nos cinemas africanos.