The Mostra de Cinemas Africanos chega a mais uma edição em São Paulo (SP), de 5 a 13 de setembro, no Cinesesc e no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Neste ano, o festival reúne 13 longas e 16 curtas de 12 países, com destaque para o cinema do Senegal e vários títulos inéditos no Brasil, além da presença de convidados do continente africano em debates, masterclasses e painéis. O Cinesesc sedia as exibições de filmes, enquanto no Sesc Centro de Pesquisa e Formação acontecem três mesas e uma masterclass com a participação de cineastas africanos.
Entre as atrações deste ano está o drama fantástico “MAMI WATA” (2023), de C.J. Obasi, inédito no Brasil. O longa nigeriano em preto e branco ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia, assinada pela brasileira Lílis Soares, at the Festival de Sundance (EUA). A trama é baseada em um mito do oeste africano. Quando um acontecimento trágico perturba a paz de uma comunidade, duas irmãs lutam para salvar sua aldeia e restaurar a glória de Mami Wata, deusa das águas. Diretor e fotógrafa estarão em São Paulo para a Mostra.
Outro ponto alto desta edição é o encontro de duas gerações de grandes realizadores do Senegal: o jovem Alassane Diago e o veterano Moussa Sène Absa, que vem ao festival com o apoio da Embaixada da França no Brasil. Serão exibidas retrospectivas do trabalho de ambos.
Três filmes sobre emigração e conflitos familiares do documentarista Alassane Diago serão projetados. É dele, “As Lágrimas da Emigração” (2010), que conta a história de sua mãe que espera o marido há 20 anos. Quase dez anos depois, Diago decide ir ao Gabão para confrontar o pai, no longa “Conhecendo meu Pai” (2018). Também será apresentado seu trabalho mais recente, “O Rio não é uma Fronteira” (2022), no qual testemunhas relembram os massacres de 1989 na fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Todos os títulos são inéditos no Brasil.
A Mostra vai exibir a trilogia das mulheres senegalesas de Moussa Sène Absa, que começa com o drama “Tableau Ferraille” (1997), sobre duas mulheres que se relacionam com um político em ascensão que deseja filhos. Segue com “Madame Brouette” (2002), no qual uma senegalesa luta para manter sua independência. “Xalé – As Feridas da Infância” (2022), que fala sobre relações familiares e tradição, encerra o trio.
MAIS FILMES EM EXIBIÇÃO
Do Benin surge “O Panteão da Alegria” (2023), musical protagonizado por crianças e dirigido por Jean Odoutan. O filme discute de forma bem-humorada o sonho de viver na Europa que continua a crescer entre os jovens africanos. Único representante do Norte da África desta edição, “O Kafta Azul” (2022), da diretora Maryam Touzani, lança um olhar generoso para as mulheres do Marrocos. O filme lida com questões LGBT em um país que se recusa a tocar no assunto.
No drama “Maputo Nakuzandza” (2022), da brasileira Ariadine Zampaulo, uma rádio de Moçambique anuncia o desaparecimento de uma noiva enquanto a vida ao redor parece transcorrer sem sobressaltos. A cineasta também participa de uma mesa de discussão que aborda parcerias entre Brasil e África.
Primeiro longa de Pape Bouname Lopy, “A Ovelha de Sada” (2023), trata de um tema delicado no Senegal, o Tabaski, celebração religiosa do Islã que envolve o sacrifício de ovelhas. Em “No Cemitério do Cinema” (2023), o cineasta da Guiné Conacry, Thierno Souleymane Diallo, sai em busca de um filme perdido, que teria sido realizado no seu país em 1953, mas do qual ninguém tem registros. No drama feminista “Sira” (2023), de Apolline Traoré, uma jovem nômade se posiciona contra o terror islâmico após um ataque brutal na região do Sahel.
A curadoria de longas é assinada por Ana Camila Esteves, e pelo cineasta e crítico nigeriano Dika Ofoma. “A nossa seleção deste ano nos deu a oportunidade de pensar em outros critérios que não levassem em conta somente as seleções dos grandes festivais”, observa Ana Camila. “Neste sentido, ficamos felizes de manter a nossa linha curatorial que privilegia títulos que muitas vezes não chegam no Brasil nem nos festivais do final do ano, muito menos nos circuitos comerciais”, conclui.
Sessão de curtas: Festival StLouis DOCS (Senegal)
O nosso foco Senegal em 2023 compreende também esta sessão de curtas, pensada em conjunto com os diretores do StLouis DOCS – festival international du film documentaire, que acontece na ilha de Saint-Louis, no Senegal, desde 2009. A Mostra de Cinemas Africanos esteve presente na edição 2023 do festival e trouxe de lá, além de muita inspiração sobre como fazer um festival tão bonito e acessível dedicado ao documentário, uma seleção de curtas que fizeram parte da seleção oficial em competição. Temos muito orgulho de nos aproximar do StLouis DOCS e de trazer para o Brasil estes cinco filmes tão diversos em termos de linguagem, estilo, temas e narrativas, abrangendo produções da Argélia, de Moçambique, do Congo e de Cuba.
Short films session
Nova Onda Cabo Verde: Viagens Possíveis
Sessão apresentada por Tela D’Pano Terra com curadoria de Pedro José-Marcellino, que assina o texto abaixo:
O cinema caboverdiano se marca tangivelmente como um cinema documental, híbrido, experimental, político e de intervenção social, mas previsivelmente, com nove ilhas tão diferentes umas das outras e uma população diaspórica espalhado pelo mundo e que vastamente ultrapassa a população no país, a diversidade de visões internas e externas é imensa. Assim como é a influência cultural caboverdiana em países como França e Portugal.
Neste bloco quisemos convidar a audiência a viajar com a gente a Cabo Verde, num caleidoscópio de visões com vários ângulos de entrada que se ajustam e se complementam, passando da narrativa de viagem ao cinema experimental e de autor, do documentário autobiográfico à ficção, e terminando num curtinha poético gostoso, em justa homenagem aos guardadores e contadores de nossas histórias: nossos avós.
Sessão de curtas: Durban International Film Festival (África do Sul)
Este ano a Mostra de Cinemas Africanos inaugura uma parceria com o Durban International Film Festival (DIFF), o maior festival de cinema da África do Sul. Em um projeto de dois anos, esta aliança consiste em criar uma rede de diálogo e colaboração entre jovens realizadores brasileiros e sul-africanos, fazendo circular seus filmes nos dois festivais e oferecendo oportunidades de formação e parcerias entre os dois países. Neste primeiro ano, depois de levarmos filmes brasileiros para o DIFF 2023, com curadoria da nossa curadora colaboradora Ceci Alves, e de termos estado presentes no festival em Durban na ocasião, juntamente com a cineasta brasileira Xan Marçall, é a nossa vez de receber uma seleção de filmes de jovens sul-africanos, que também estarão presentes no nosso festival. Para o público brasileiro, uma oportunidade de conhecer os temas e narrativas que inspiram a nova geração de realizadores que fazem parte de uma das maiores indústrias de cinema da África.
Curtas WawKumba (Senegal)
A WawKumba é uma recém fundada empresa independente de distribuição e produção no Senegal. Formada por cinco mulheres senegalesas profundamente envolvidas com o cinema do seu país, a ideia é vender “o sonho africano” através das imagens. A WawKumba chega para compensar a falta de uma empresa distribuidora no Senegal, e se enquadra numa lógica de promoção e soberania na produção e comercialização de obras cinematográficas africanas. Através do seu desenvolvimento, WawKumba film pretende dar visibilidade significativa à criação artística, potencializr produções e vendas bem como permitir melhores rendimentos aos realizadores e técnicos dos cinemas africanos através de uma profunda mudança estrutural e industrial do setor.
Dois curtas-metragens distribuídos pela WawKumba estão na nossa programação deste ano, abrindo as sessões de longas-metragens senegaleses.
Convidados da edição
Moussa Sène Absa começou no cinema como roteirista do filme Les enfants de Dieu. Seu primeiro curta, Le prix du mensonge, recebeu o Tanit de Prata nas Jornadas Cinematográficas de Cartago em 1998. Em 1991, dirigiu o longa Ken Bugul, seguido de Ça twiste à Popenguine, em 1992, reconhecido internacionalmente. Em 1996, dirigiu o longa Tableau Ferraille (Melhor Fotografia no Fespaco 1997), a primeira parte da sua trilogia sobre mulheres, seguido por Madame Brouette (Urso de Prata na Berlinale 2002) e Xalé (2022). Seus primeiros dois longas, Teranga Blues , and Yoole, estiveram em competição no Fespaco em 2007 e 2013. A trilogia sobre as mulheres é um dos destaques da Mostra de Cinemas Africanos 2023, que estreia no Brasil o seu último longa, Xalé.
C.J. “Fiery” Obasi cresceu assistindo filmes de terror na Hammer House e lendo romances de Stephen King. Muito mais tarde na vida, C.J. deixaria de lado seu diploma em Ciência da Computação da Universidade da Nigéria (UNN) para se lançar no cinema em tempo integral. Sua estreia no longa-metragem foi com “OJUJU”, e no curta-metragem com Hello, Rain, baseado em Hello, Moto, da autora de renome mundial Nnedi Okorafor – ambos exibidos em mais de 30 festivais de cinema. Seu último longa, MAMI WATA, estreou em Sundance em 2023, onde ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia, assinada pela brasileira Lílis Soares. O filme faz sua estreia sul-americana na Mostra de Cinemas Africanos.
Alassane Diago nasceu em 1985 em Agnam Lidoubé, Senegal. Depois de concluir um curso técnico em audiovisual no Dakar, em 2007, fez vários cursos de técnicas de direção e roteiro, principalmente com o documentarista Samba Félix Ndiaye, uma das maiores referência no documentário africano. Trabalhou em vários sets de filmagem, incluindo no do filme Lili-et-le baobab, dirigido por Chantal Richard, antes de dirigir seu primeiro documentário de longa-metragem, Les Larmes de l’émigration (2010), que ganhou vários prêmios. Atualmente, Alassane Diago vive em Paris. Três dos seus filmes serão apresentados pela primeira vez no Brasil na programação da Mostra de Cinemas Africanos 2023.
Parallel programme
O catálogo da Mostra de Cinemas Africanos 2023 reúne a ficha técnica e sinopses dos filmes exibidos, além de seções especiais sobre os cineastas convidados, atividades paralelas e programas parceiros que fizeram parte desta edição.
Ao longo das páginas é possível encontrar um artigo do crítico nigeriano Victor Daniel sobre o filme “MAMI WATA”, uma entrevista da pesquisadora espanhola Estrella Sendra com Moussa Sène Absa sobre o filme “Xalé”, e ainda um artigo do pesquisador brasileiro Francisco Alves Junior sobre a obra de Alassane Diago e o gênero documentário.
O catálogo foi produzido em parceria com o Sesc São Paulo, tem produção editorial de Ana Camila Esteves e revisão de Rodrigo Lessa. A arte e diagramação do catálogo são de Jéssica Patrícia Soares e a foto de capa é do cineasta e fotógrafo senegalês Mamadou Diop.
A versão impressa é distribuída gratuitamente no Cinesesc São Paulo, mas a publicação também pode ser acessada aqui.
A iniciativa integra um dos eixos do festival, que tem como objetivo difundir produção de conteúdo sobre os cinemas africanos em língua portuguesa.
Credits
SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Administração Regional no Estado de São Paulo
Presidente do Conselho Regional
Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional
Danilo Santos de Miranda
Superintendentes
Técnico-social Rosana Paulo da Cunha
Comunicação Social Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves
Administração Jackson Andrade de Matos
Assessoria Técnica e de Planejamento Marta Raquel Colabone
Consultoria Técnica Luiz Deoclécio Massaro Galina
Gerentes
Ação Cultural Érika Mourão Trindade Dutra
Assessoria de Relações Internacionais Heloísa Pisani
Artes Gráficas Rogério Ianelli
Centro de Produção Audiovisual Wagner Palazzi Perez
Estudos e Desenvolvimento João Paulo Leite Guadanucci
Sesc Digital Fernando Amodeo Tuacek
CineSesc Gilson Packer
Centro de Pesquisa e Formação Andréa de Araújo Nogueira
Equipe Sesc
André Coelho Mendes Queiroz, Cecília de Nichile, Cesar Albornoz, Danilo Cymrot, Desiane Pereira da Silva, Gabriella Rocha, Giuliano Jorge Magalhães, Graziela Marcheti, Humberto Mota, João Cotrim, Karina Camargo Leal Musumeci, Kelly Teixeira, Malu Miranda, Mariana Rosa, Maurício Trindade da Silva, Priscila Machado Nunes, Regina Salete Gambini, Rodrigo Gerace, Simone Yunes, Solange dos Santos Alves Nascimento
EQUIPE MOSTRA DE CINEMAS AFRICANOS
Direção e Coordenação Geral: Ana Camila Esteves,
Curadoria Longas: Ana Camila Esteves e Dika Ofoma
Curadoria Curtas:
Sessão StLouis DOCS: Ana Camila Esteves, Dominique Olier e Souleymane Kebe
Nova Onda Cabo Verde: Viagens Possíveis: Pedro José Marcelino (Tela D’Pano Terra)
Sessão Durban International Film Festival: Ceci Alves e Sakhile Gumede
Coordenação de Produção: Edmilia Barros
Coordenação de Comunicação: Gisele Santana
Assessoria de Imprensa: Isidoro Guggiana e Gisele Santana
Identidade visual e Diagramação: Jéssica Patrícia Soares
Teaser e VT: Dimi Ouedraogo
Redes Sociais: Adrielly Novaes
Produção Editorial: Ana Camila Esteves e Jusciele Oliveira
Produção de Cópias: Aspecto Digital
Revisão de Legendas: Ana Camila Esteves, Lair Alves e Mamadou Diop
Tradução e Legendagem: Bettina Winkler, Luiza Campo, Juan Rodrigues, Lair Alves e Samanta Silveira
Revisão Catálogo: Rodrigo Lessa
African filmmakers: Moussa Sène Absa (Senegal), Alassane Diago (Senegal) e C.J. “Fiery” Obasi (Nigéria)
Equipe Durban International Film Festival (África do Sul): Sakhile Gumede (curador), Noluvuyo Mjoli (produtora e cineasta), Luyanda Ngcobo (cineasta), Siphiwo Mdletshe (cineasta) e Hlengiwe Khwela (produtora)
Convidadas especiais (Brasil): Lílis Soares, Ariadine Zumpaulo e Ceci Alves
Coordenação atividades paralelas: Julia Alves
Convidadas/os atividades paralelas (Paradiso Multiplica): Bartolomeu Luiz, Julia Alves e Vilma Carla Martins
Parcerias: Durban International Film Festival (África do Sul), WawKumba Films (Senegal), Tela D’Pano Terra (Cabo Verde) e StLouis DOCS (Senegal)
Apoio: Paradiso Multiplica, Cinemateca da Embaixada da França no Brasil e Institut Français
Agradecimentos: João Gustavo Munhoz, Rachel do Valle e Milena Larissa (Projeto Paradiso), Antonio Gonçalves Junior (Festival Olhar de Cinema)