A Mostra de Cinemas Africanos retorna a Salvador (BA), cidade onde o festival nasceu, com programação no Cine Glauber Rocha e na Saladearte Cinema do Museu, entre 13 e 18 de setembro. Neste ano, o evento reúne 15 longas de 9 países, com destaque para o cinema do Senegal e vários títulos inéditos no Brasil, além da presença de convidados do continente africano em debates, masterclasses e bate-papos. Os ingressos custam R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia).
Entre as atrações deste ano está o drama fantástico “MAMI WATA” (2023), do nigeriano C.J. Obasi, inédito no Brasil. O longa nigeriano em preto e branco ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia, assinada pela brasileira Lílis Soares, no Festival de Sundance (EUA). A trama é baseada em um mito do oeste africano. Quando um acontecimento trágico perturba a paz de uma comunidade, duas irmãs lutam para salvar sua aldeia e restaurar a glória de Mami Wata, deusa das águas. Diretor e fotógrafa estarão presentes na programação em Salvador.
Outro ponto alto desta edição é o encontro de duas gerações de grandes realizadores do Senegal: o jovem Alassane Diago e o veterano Moussa Sène Absa, que vem ao festival com o apoio da Embaixada da França no Brasil. Serão exibidas retrospectivas do trabalho de ambos.
A abertura do festival acontece dia 13 de setembro no Cine Glauber Rocha, com “Xalé – As Feridas da Infância” (2022), de Moussa Sène Absa, que fala sobre relações familiares e tradição. O filme integra a trilogia “Destinos das Mulheres”, produzida pelo cineasta senegalês, que conta ainda com os longas Madame Brouette” (2002), onde uma senegalesa luta para manter sua independência, e o drama “Tableau Ferraille” (1997), sobre duas mulheres que se relacionam com um político em ascensão que deseja filhos.
Também serão projetados três filmes sobre migração e conflitos familiares do documentarista senegalês Alassane Diago. “As Lágrimas da Emigração” (2010), que conta a história de sua mãe que espera o marido há 20 anos. Quase dez anos depois, Diago decide ir ao Gabão para confrontar o pai, no longa “Conhecendo meu Pai” (2018). Também será apresentado seu trabalho mais recente, “O Rio não é uma Fronteira” (2022), onde testemunhas relembram os massacres de 1989 na fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Todos os títulos são inéditos no Brasil.
A Mostra de Cinemas Africanos 2023 edição Salvador tem realização da Ana Camila Comunicação & Cultura, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia por meio da Fundação Cultural do Estado, Diretoria de Audiovisual-DIMAS, da Embaixada da França no Brasil, do Sesc São Paulo e do Projeto Paradiso Multiplica.
Curtas WawKumba (Senegal)
A WawKumba é uma recém fundada empresa independente de distribuição e produção no Senegal. Formada por cinco mulheres senegalesas profundamente envolvidas com o cinema do seu país, a ideia é vender “o sonho africano” através das imagens. A WawKumba chega para compensar a falta de uma empresa distribuidora no Senegal, e se enquadra numa lógica de promoção e soberania na produção e comercialização de obras cinematográficas africanas. Através do seu desenvolvimento, WawKumba film pretende dar visibilidade significativa à criação artística, potencializr produções e vendas bem como permitir melhores rendimentos aos realizadores e técnicos dos cinemas africanos através de uma profunda mudança estrutural e industrial do setor.
Dois curtas-metragens distribuídos pela WawKumba estão na nossa programação deste ano, abrindo as sessões de longas-metragens senegaleses.
Convidados da edição
Moussa Sène Absa começou no cinema como roteirista do filme Les enfants de Dieu. Seu primeiro curta, Le prix du mensonge, recebeu o Tanit de Prata nas Jornadas Cinematográficas de Cartago em 1998. Em 1991, dirigiu o longa Ken Bugul, seguido de Ça twiste à Popenguine, em 1992, reconhecido internacionalmente. Em 1996, dirigiu o longa Tableau Ferraille (Melhor Fotografia no Fespaco 1997), a primeira parte da sua trilogia sobre mulheres, seguido por Madame Brouette (Urso de Prata na Berlinale 2002) e Xalé (2022). Seus primeiros dois longas, Teranga Blues e Yoole, estiveram em competição no Fespaco em 2007 e 2013. A trilogia sobre as mulheres é um dos destaques da Mostra de Cinemas Africanos 2023, que estreia no Brasil o seu último longa, Xalé.
C.J. “Fiery” Obasi cresceu assistindo filmes de terror na Hammer House e lendo romances de Stephen King. Muito mais tarde na vida, C.J. deixaria de lado seu diploma em Ciência da Computação da Universidade da Nigéria (UNN) para se lançar no cinema em tempo integral. Sua estreia no longa-metragem foi com “OJUJU”, e no curta-metragem com Hello, Rain, baseado em Hello, Moto, da autora de renome mundial Nnedi Okorafor – ambos exibidos em mais de 30 festivais de cinema. Seu último longa, MAMI WATA, estreou em Sundance em 2023, onde ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia, assinada pela brasileira Lílis Soares. O filme faz sua estreia sul-americana na Mostra de Cinemas Africanos.
Alassane Diago nasceu em 1985 em Agnam Lidoubé, Senegal. Depois de concluir um curso técnico em audiovisual no Dakar, em 2007, fez vários cursos de técnicas de direção e roteiro, principalmente com o documentarista Samba Félix Ndiaye, uma das maiores referência no documentário africano. Trabalhou em vários sets de filmagem, incluindo no do filme Lili-et-le baobab, dirigido por Chantal Richard, antes de dirigir seu primeiro documentário de longa-metragem, Les Larmes de l’émigration (2010), que ganhou vários prêmios. Atualmente, Alassane Diago vive em Paris. Três dos seus filmes serão apresentados pela primeira vez no Brasil na programação da Mostra de Cinemas Africanos 2023.